À semelhança do próprio acto de ler, uma história da leitura avança aos saltos para o nosso tempo - até mim e às minhas experiências como leitor - e depois regressa a uma página anterior num século distante e estrangeiro. Salta capítulos, lê ao acaso, selecciona, relê, recusa-se a seguir a ordem convencional.
Paradoxalmente, o receio que está na origem da oposição entre leitura e vida activa, e que levava a minha mãe a mandar-me trocar a cadeira onde me sentava e o livro que estava a ler pelo ar livre, esse mesmo receio reconhece uma verdade solene: «Não se pode embarcar de novo na vida, nessa viagem única, uma vez terminada», escreve o romancista turco Orhan Pamuk em The White Castle, «mas se tiver um livro nas mãos, por mais complexo ou difícil de compreender que seja, quando o terminar, pode, se quiser, voltar ao princípio, lê-lo novamente e assim compreender aquilo que achou difícil e, ao mesmo tempo, compreender também a vida».
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Alberto Manguel, Uma História da Leitura
Editorial Presença, 1998, pág. 36
7.4.06
o tempo na leitura
Etiquetas: palavras