Certos livros não requerem apenas um contraste entre o seu conteúdo e o ambiente que os rodeia: parecem também exigir posições específicas para serem lidos, posturas do corpo do leitor que, por seu turno, requerem lugares de leitura apropriados a essas posturas. Com frequência, o prazer obtido com a leitura depende em grande medida do conforto físico do leitor.
Quer escolhamos primeiro o livro e depois um canto apropriado, quer encontremos primeiro o canto e depois decidamos que livro se adequa ao ambiente do canto, não há dúvida de que o acto da leitura no tempo requer um acto correspondente de leitura no espaço e que a relação entre os dois actos é indissociável.
Há livros que leio em sofás e outros que leio à secretária; há livros que leio no metro, em eléctricos e autocarros. Encontro nos livros que leio em comboios uma natureza semelhante à dos que leio num sofá, talvez porque, em ambos, me posso abstrair facilmente do que me rodeia. A melhor altura para ler um bom conto», observou o romancista inglês Alan Sillitoe, «é na verdade, quando se viaja sozinho de comboio. Com estranhos à volta e uma paisagem desconhecida (para a qual se olha de vez em quando) a desfilar aos nossos olhos pela janela, a vida interessante e complicada que vem das páginas possui os seus próprios efeitos peculiares e duradoiros».
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Alberto Manguel, Uma História da Leitura
Editorial Presença, 1998, pág. 161
9.4.06
o espaço na leitura
Etiquetas: palavras