Acreditava, desde os primeiros anos da minha juventude, que cada pessoa neste mundo tem o seu no man's land, onde é dona de si própria. Há a existência visível, e há a outra, que os outros desconhecem e que nos pertence totalmente. Isso não significa que uma é moral e a outra não, ou que uma é permitida e a outra é proibida. Simplesmente, cada homem, de tempos a tempos, escapa a qualquer controlo, vive na liberdade e no mistério, só ou com alguém, uma hora por dia, uma tarde por semana, uma dia por mês. E essa existência secreta e livre de uma tarde, ou de um dia, prolonga-se na tarde, ou no dia seguinte, e as horas continuam a seguir-se umas às outras.
Essas horas acrescentam algo à sua existência visível, a menos que não tenham significado próprio. Podem ser alegria, necessidade ou hábito, mas, em todo o caso, servem para se conservar uma linha geral. Quem não utilizou esse direito ou dele foi privado pelas circunstâncias surpreender-se-á, um dia, ao constatar que nunca se encontrou consigo mesmo. Não se pode pensar nisso sem melancolia.
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Nina Berberova, Terra de Ninguém
Editorial Presença, 1990, pág. 32–33
9.5.06
terra de ninguém
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