Fala a sério e fala no gozo
fá-la p'la calada e fala claro
fala deveras
saboroso
fala barato e fala caro
Fala ao ouvido fala ao coração
falinhas mansas ou palavrão
..............................................
Fala fininho e fala grosso
desentulha a
garganta levanta o pescoço
Fala como se falar fosse andar
fala com
elegância muita e devagar.
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Alexandre O'Neill, Poesias Completas (1951–1986)
Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1995, pág. 145
16.7.05
Fala!
Etiquetas: palavras
13.6.05
adeus.
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
_
Eugénio de Andrade, Poesia e Prosa (1940–1980)
Limiar, 1981, pág. 49
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